O Day 1 de Jeff Bezos
Este artigo está disponível em formato de PODCAST no Spotify:
No último dia 05 de julho a gigante americana Amazon completou 26 anos de operação. Vem inovando a cada dia. Mostrou ainda mais seu valor durante a pandemia global, consolidando o posto de marca mais valiosa do mundo em 2020.
Com uma triangulação muito bem sucedida entre visão de negócios, desenvolvimento tecnológico massivo e human centricity, tem uma cultura forte e emblemática, capitaneada por Jeff Bezos, um visionário que em 1994, já antevia o revolucionário potencial da internet.
Nos anos 1990 a internet ainda engatinhava no mundo. Mostrava aos poucos suas facetas à sociedade, que demorou a entender exatamente o que estava acontecendo. Alguns observaram este processo com atenção, outros com desdém. Talvez a grande maioria simplesmente tenha ignorado a grande rede, seu avanços e como nossas vidas seriam transformadas.
Poucos anos depois, a partir de 1994, houve o boom da internet. Crescimentos de 2.300% ao ano levaram a uma corrida desenfreada de investimentos nas empresas ponto com. Um movimento que não conseguiu se sustentar. Em 10 de março de 2000 a bolha se rompeu. Possivelmente devido ao pouco entendimento do que realmente se tratava este fenômeno tecnológico – com gigantescos efeitos colaterais em todas as esferas de nossas vidas -, o que parecia uma grande promessa de negócios estourou diante de olhares incrédulos. A atenção se voltou à rede, mas ainda havia muito a se entender sobre seus verdadeiros impactos no mundo.
Foi nesse contexto que um bem sucedido engenheiro de Wall Street, observou o cenário e, a despeito das incertezas, pensou: “Eu tenho que criar uma ideia de negócios na internet”. Sua ideia amadureceu e intenção era criar algo enquanto a rede era ainda pequena e esperar que crescesse. Listou os tipos de produtos que poderiam ser vendidos e escolheu os livros, por ser a categoria que tem mais itens que qualquer outra no mercado. Sua ideia era criar uma seleção universal de livros.
O jovem empreendedor tomou uma decisão com o coração e não com o cérebro. E começou pequeno. Num tímido escritório em Seattle, tinha visão de longo prazo que marcaria para sempre sua jornada. Se chamava Jeffrey Preston Jorgensen. Hoje é conhecido como Jeff Bezos, fundador, presidente e CEO da Amazon, e o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 147 bilhões.
“O que você gostaria que nós vendêssemos?”
Depois dos livros vieram as músicas e os vídeos. E na sequência, através de um email enviado para 1000 clientes aleatórios, Jeff Bezos pediu sugestões de novos produtos a serem vendidos pela Amazon. Teve respostas bastante específicas, que trouxeram dicas valiosas de produtos a serem incluídos no portfólio da empresa. E também uma epifania a Bezos que pensou: “Nós podemos vender qualquer coisa dessa forma (online)”.
A despeito da oportunidade de diversificação, talvez este email tenha mostrado algo mais. Talvez o grande valor representado neste episódio seja a profunda atenção pelo cliente. Um valor que guia o sucesso da Amazon até os dias de hoje, muito além das questões tecnológicas, rumo à construção de um negócio ao redor das necessidades humanas.
Enquanto alguns players do varejo hoje estão se preparando para entrar no mercado digital (pressionados pela pandemia), as recomendações personalizadas nas experiências de compra, característica marcante da Amazon, já existem desde o século passado. Desde então criou a “Compra com 1 Clique”, tornando a experiência direta e objetiva. Invadiu o mundo físico e lançou a Amazon Go, com uma experiência espetacular (e assustadora), sem filas, sem caixas, sem atrito. E recentemente passou a oferecer no Brasil o serviço “Programe e Poupe”. Uma espécie de assinatura multi-produtos que são entregues em casa, com desconto e conveniência máxima. Hoje a Amazon é mestre em interfaces diretas e muito bem projetadas, fazendo valer a máxima de que a simplicidade é o mais alto grau de sofisiticação. Sempre obcecada pelo consumidor.
“Você tem que usar seu coração e sua intuição. Você tem que correr riscos, tem que ouvir seus instintos.”
Jeff Bezos não é à prova de erros. Muito pelo contrário. Admite uma série deles. O Fire Phone, o primeiro smartphone da empresa lançado em 2014, foi um fracasso espetacular que fez a empresa não mais insistir no mercado de telefonia móvel. Ou o jogo chamado “Crucible”, que consumiu seis anos trabalho e milhões de dólares em investimento. Foi lançado sem alarde em maio de 2020 e retirado do mercado poucas semanas depois. Mas segundo ele, os grandes campeões pagaram pelos ‘milhares’ de experimentos que fracassaram, mostrando um apreço pela experimentação como forma de continuar sempre se desenvolvendo.
“Você tem que ser grande e ágil.”
Quando o assunto é negócios, tecnologia e pessoas, as mensagens oferecidas por Jeff Bezos trazem uma grande dose de ‘equilíbrio dinâmico’. O que traduz e resume um grande atributo a ser desenvolvido em pessoas, líderes e organizações que querem sobreviver num mundo cada vez mais instável. Bezos se vangloria da escala global alcançada, mas se preocupa com o desafio de manter a agilidade em suas atividades. Busca um balanço entre a pujança de uma operação massiva com a paixão e ímpeto de um pequeno empreendedor. Inventividade e leveza nas tomadas de decisão seriam os segredos de Bezos para fazê-lo ser grande, mas também ser ágil.
“Quero minimizar o número de arrependimentos que vou ter na minha vida.”
Bezos acredita que a maior parte de nossos arrependimentos são atos de omissão, e por isso iniciou seu empreendimento comercial. Tentou não se omitir diante de seus desejos e intuições. Há 26 anos ele mesmo levava as encomendas até o correios e seu sonho era comprar uma empilhadeira para ajudar no processo de entregas. Bezo viu as coisas crescerem, mas nunca perdeu de vista o que chama de “Day 1 Mentality”. A cultura que mantém até hoje em sua organização, que busca tratar o negócio como se fosse o primeiro dia. Com o carinho, atenção e entusiasmo. Mesmo a Amazon sendo hoje uma empresa mais valiosa do mundo, Jeff cuida para que se mantenha com o coração e espírito de uma empresa pequena. E é categórico quando descreve como seria o Day 2: Um declínio doloroso e excruciante seguido pela morte. E por isso, em sua organização sempre será o “Day 1”.
Uma visão clara. Começar pequeno e pensar grande. Uma cultura forte que mantém o melhor dos mundos entre escala e agilidade. Obsessão pelo cliente, com uma profunda atenção às necessidades humanas. Não são poucos os fatores que estão levando Bezos a escrever um capítulo que ficará imortalizado nos anais dos negócios. Comércio eletrônico, varejo físico, computação em nuvem, streaming digital, inteligência artificial e até exploração espacial estão entre suas frentes de trabalho hoje. Mas não se surpreenda caso isso seja apenas o começo para Jeff Bezos, aquele que conseguiu vislumbrar o revolucionário potencial da internet enquanto poucos sequer a haviam percebido.
0 comentário