Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Publicado por Andre Bello em


Simon Sinek se considera um inabalável otimista. É uma das maiores referências da atualidade para líderes, empreendedores e indivíduos que buscam sentido em suas carreiras e vidas pessoais.

Em sua primeira TED Talk – apresentada em 2009 e hoje com mais de 50 milhões de visualizações – Simon Sinek trouxe a público a abordagem conhecida como Golden Circle. A partir daí ganhou visibilidade por popularizar o conceito de Propósito como fator estratégico para a construção de marcas e organizações.

Suas mensagens são universais e atraem atenção do grande público. Sua obra traz uma carga emocional sem apelar para o sentimentalismo e explora diversas facetas sobre o papel do líder. Invariavelmente seus argumentos recaem nos aspectos humanos necessários para lidar com as novas dinâmicas do mundo. O que, mais uma vez, encanta desde donas de casa até CEOs.

Simon tem uma incrível capacidade de comunicar conceitos complexos de forma extremamente simples. É um exímio contador de histórias e ilustra conceitos como ninguém através de narrativas aparentemente corriqueiras em nossas vidas. Uma destas histórias, contada em algumas de suas palestras, diz respeito a experiência que teve quando ficou hospedado no hotel Four Seasons em Las Vegas, que demonstra como uma liderança humanizada e relacionamentos empáticos oferecem influências positivas sobre o ambiente de trabalho e sobre a performance dos colaboradores.

Com um traquejo todo especial, Simon conta que o Four Seasons de Las Vegas é um hotel maravilhoso. Não exatamente por suas camas luxuosas, afinal existem outros hotéis com camas luxuosas que não são maravilhosos. Simon diz que o Four Seasons de Las Vegas é um hotel diferenciado por causa das pessoas que trabalham lá. Seus funcionários parecem verdadeiramente autênticos cumprimentando os hóspedes. Saúdam os clientes de forma espontânea e não por conta de um treinamento artificial.

Em uma de suas visitas, Simon conheceu um atendente do café, chamado Noah, que, assim como o hotel, parecia também maravilhoso em seu atendimento. Curioso, Simon perguntou se Noah gostava de seu emprego. A resposta? Noah disse: “Eu ‘amo’ meu emprego!” 

Noah não disse que estava ‘satisfeito’ ou ‘gostava’ do seu trabalho. Disse prontamente, sem vacilar, que ‘amava’ aquele emprego!

Simon então perguntou porque ele amava ser atendente daquele café. A resposta foi: “Porque aqui meus gerentes não perguntam como estão meus resultados ou se preocupam se há algo errado como a operação, como os gerentes do outro hotel onde onde trabalho. No Four Seasons eles perguntam como ‘eu’ estou, querem saber se preciso de alguma ajuda, se há alguma coisa que eu precise para fazer melhor o meu trabalho. Aqui meus líderes permitem que eu seja eu mesmo!”

Simon finaliza a história concluindo que a boa liderança cria o ambiente correto para conseguir o melhor de cada colaborador. Diz que o ambiente criado pelo líder influencia o trabalho de pessoas como Noah. Que no Four Seasons amam seus empregos, mas que em outros hotéis, apenas toleram suas atividades.


Nos últimos anos Simon Sinek desbravou novas dimensões emocionais que, segundo ele, conduzem organizações e empreendimentos ao sucesso. Trouxe ao grande público exemplos como os Irmãos Wright, Martin Luther King e Steve Jobs. Líderes que conduziram seus empreendimentos guiados por uma causa maior. Segundo Simon, todos eles foram orientados por um “porquê” relevante e significativo. Trouxeram à tona camadas mais profundas que fazem mais sentido para a liderança moderna. Uma liderança mais sutil, sensível e mais humana.

Simon diz que, infelizmente, há um esquecimento quase que generalizado sobre os principais atributos para uma boa liderança. É bem incisivo quando diz que há duas qualidades que um grande líder deve ter: Empatia e Perspectiva (visão abrangente). A experiência de Simon entre grandes clientes globais mostra que normalmente os líderes estão mais preocupados com o status pessoal, com sua posição dentro da organização. Ou seja, estão preocupados com seu ego. E que acabam por esquecer de suas verdadeiras funções.

Simon diz que, a exemplo dos gerentes de Noah no Four Seasons, o verdadeiro trabalho de um líder não é ‘estar no controle’. Mas é ‘cuidar’ de quem está sob seu comando.

Numa profunda em bem fundamentada análise, Simon Sinek acredita que esta situação acontece pela própria dinâmica organizacional. Na evolução de carreira dos colaboradores em estágios iniciais até os cargos de liderança. Um executivo júnior é treinado para ser bom em seu trabalho. Toda aprendizagem e empenho são voltados para realizar suas atribuições operacionais da melhor forma possível. A empresa oferece toneladas de treinamentos para maximizar sua performance naquele trabalho. Caso consiga êxito nestas atribuições, o executivo júnior escala os degraus de sua carreira e é promovido a líder. Uma função essencialmente diferente daquela que está acostumado e treinado a fazer. Muitas vezes (quase sempre) o novo líder continua micro gerenciando seu trabalho anterior. Afinal, foi treinado para isso e é o que faz de melhor.

Mas, liderar não é realizar o trabalho em si. Liderar é ser responsável pelas pessoas que irão realizar o trabalho. Ou seja, o trabalho de um gerente de processos é completamente diferente das atribuições de um líder de pessoas. Embora as organizações não ensinem como, é preciso fazer um transição dos princípios gerenciais de trabalho para os princípios da liderança efetiva. 

E pelo contexto não ajudar, somente algumas pessoas fazem isso rapidamente. Algumas outras demoram mais um pouco e muitos sequer chegam a liderar de verdade…


Novos tempos, novas dinâmicas.

A obra de Simon é recheada de duras críticas à práticas consagradas pelo mercado de algumas décadas atrás. Segundo ele, as transições do macro-ambiente dos últimos 20 anos seriam também responsáveis pelas lacunas encontradas nas lideranças atuais. Simon acredita que os líderes de hoje estejam sofrendo um efeito colateral dos cenários políticos, sociais e econômicos vigentes nos anos 1980 e 1990. Modelos gerados nestas décadas, associados a cenários mais controlados e de crescimento econômico simplesmente não funcionam nas dinâmicas atuais.

Neste ponto, Simon colide frontalmente contra o conceito da Supremacia do Acionista, uma prática que norteia o capitalismo americano há décadas, que foca todo o esforço da organização para o lucro dos sócios da empresa. Simon também condena práticas que hoje, apesar de soarem desastrosas para as organizações, ainda são realidade, como as Demissões em Massa. Um movimento que, segundo ele, usa a vida das pessoas para equilibrar relatórios de resultados e que gera uma onda de desconfiança, mentira e insegurança na organização… Práticas como essa, unicamente focadas nos índices financeiros, põe por terra, em pouquíssimo tempo, a construção de confiança e de cooperação tão desejadas pelo mercado. 

Sempre buscando ilustrar seus conceitos, Simon exemplifica duas abordagens possíveis para um líder diante de um problema de baixo desempenho de um colaborador: “Seus números estão caindo pelo 3o. trimestre seguido. Se sua performance continuar piorando não poderei te dar garantias sobre seu futuro na empresa”. Este é um exemplo de líder orientado ao trabalho a ser feito, focado nos resultados a serem alcançados, que gera um ambiente de medo e insegurança.

Por outro lado o líder também poderia falar: “Seus números estão baixos… Você está bem?… Estou preocupado com você. O que está acontecendo?” Neste caso, o líder está atento ao ser humano como fator central da equação, e não exatamente aos resultados. Está construindo uma uma relação de confiança e cooperação.

Fica claro o caminho mais promissor para a construção de um ambiente de segurança psicológica. Um ambiente onde líderes e colaboradores possam expor sua vulnerabilidade, para confrontar velhos ambientes tóxicos, onde ninguém podia expressar sua sinceridade. Um local onde líderes e colaboradores possam admitir seus erros, suas fraquezas e deixar no passado as relações de máscaras e dissimulações.

O caminho da empatia para a construção de relacionamentos realmente fortes e verdadeiros, que levem as pessoas a darem o melhor de si. 


Todos podem ser líderes.

Seja a Supremacia do Acionista, demissões em massa, foco exclusivo nos resultados financeiros e outros efeitos residuais dos anos 80 e 90, Simon diz que não são práticas  ruins somente para as pessoas. Não se trata de uma abordagem meramente humanística.  Estas práticas são também muito ruins para os negócios. 

Simon Sinek acredita num modelo mais abrangente, no qual o meio ambiente e o bem-estar dos trabalhadores devem ser fatores anteriores à busca pelo lucro. E isso só é possível através de líderes mais humanos e empáticos. 

Segundo Simon Sinek, embora nem todos devam ou queiram, todos podem ser líderes. A liderança é como um músculo que deve ser treinado e exercitado pelas empresas para desenvolver e manter líderes fortes. Assim, conclama as organizações a considerarem e desenvolverem dinâmicas mais humanizadas. Dedica sua carreira a formar novos líderes que conduzam suas equipes, não sob olhar técnico de suas atribuições. Mas pelo relacionamento empático e com uma perspectiva ampla e sensível sobre as pessoas. 

Afinal, o verdadeiro trabalho de um líder não é ‘estar no controle’. Mas é ‘cuidar’ de quem está sob seu comando.


Foto destaque: Divulgação Simon Sinek


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